O presente projeto tem enfoque nas memórias do passado colonial e seus ecos na contemporaneidade, ou no que chamamos de colonialidade (QUIJANO, 2005; MIGNOLO, 2010). Buscamos pensar no modo que essas memórias são evocadas e se fazem presentes nas produções de artistas contemporâneas do Sul Global, como as brasileiras Rosana Paulino e Aline Motta, e a artista portuguesa, com raízes em São Tomé e Príncipe, Grada Kilomba. Nesse estudo propomos rememorar o passado colonial através do mar, um elemento que também pode ser identificado como Kalunga.
Com a colonização, mulheres e homens negros foram trazidos à força de países da África como escravizados para os países da América através do mar, e foram inúmeros os corpos lançados nas águas do Atlântico nessas travessias. O mar carrega uma ideia de esquecimento, o que se é jogado no mar é para ser esquecido. No entanto, Castiel Vitorino Brasileiro (2020) nos relembra que o mar é, antes de tudo, o mundo das lembranças, e que o Atlântico foi recontado como um lugar de esquecimento pela narrativa colonial. Nesse estudo pretendemos descolonizar essa narrativa em uma tentativa de pensar o mar como um espaço repleto de histórias e de memórias.
Uma vez que o mar é um elemento essencial para se pensar e visualizar a violência da colonização e da diáspora africana, uma das propostas desse projeto é criar uma relação entre o mar e a violência enquanto um processo de longa duração (BRAUDEL, 2016; GROSFOGUEL, 2016). Essa violência colonial persiste e se apresenta na contemporaneidade em forma de colonialidade. E o mar é um elemento presente nas produções artísticas contemporâneas que estudaremos que nos atenta para essa continuidade.
A fim de resgatar e reconstruir memórias ancestrais que foram fragmentadas pela diáspora com a colonização, apresentaremos nessa pesquisa a produção artística de três mulheres negras que buscam em sua poética produzir imagens e narrativas que criam fricções com a história oficial e o imaginário colonial. O mar e a água são elementos comuns à Rosana Paulino, Aline Motta e Grada Kilomba, que tem uma produção contemporânea que questiona a presença e a representação negra na história da arte e nos faz refletir sobre histórias e memórias que tentaram ser apagadas.